quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Pelo direito de ir, vir e sassaricar

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Encontrei uma amiga outro dia no supermercado e ela me disse: "acompanhei sua saga pelo blog, mas e como foi a cirurgia, conta lá!"

Eis me aqui... 
Depois de toda história relatada nos posts anteriores posso dizer que sobrevivi e, talvez, ainda terei muitas histórias pra contar e algumas aventuras, tanto ou mais frustantes como as vividas pelos corredores do HGCR.
Minha cirurgia foi realizada no dia 28 de agosto e foi um sucesso!
Recebi alta já no dia seguinte e desde então estou em casa me recuperando. 
O tempo total até voltar as atividades cotidianas é aproximadamente três meses.

Mas como não sou muito de ficar em casa resolvi dar uma banda por aí... Peguei as muletas que me acompanham e cai no mundo... 
Agora o que na minha cabeça seria um simples rolezim acabou tornando-se uma viacrucis.
E por aí fui comprovando que o mundo não está preparado para aquilo que é diferente... E como é difícil ser o mais alto, o mais baixo, o mais gordo, o "aleijado", enfim... Tudo aquilo que foge ao padrão pré-estabelecido por "sei lá quem", desconfio, mas essa é outra conversa! 

No trajeto até o supermercado, tive que enfrentar calçadas esburacadas, sem rebaixamento e com altos desníveis. Se todo esses obstáculos já pareciam quase intransponíveis para mim que conto com uma perna e duas muletas, imagine para um cadeirante?!? Tem que ser acima de tudo guerreiro...

E infelizmente esses são fatos que passam despercebidos para a maioria das pessoas. Alguns até se solidarizam, mas poucos tem realmente a consciência sobre eles. E ter consciência de que algo tem que ser feito e que é preciso um grande BASTA são os primeiros passos para cobrarmos melhorias ao poder público. É preciso antes reconhecer tal realidade para lutar por sua superação.
E olha que aqui elencamos apenas as diferenças físicas, sem mencionar as diferenças de gênero, orientações sexuais, credo, etc etc etc, que também são  ignoradas e tratadas muitas vezes como "defeitos que precisam ser corrigidos ou extirpados do meio da sociedade de bem". E enquanto isso vamos agindo como se tudo tivesse bom, pulando os buracos e tapando o sol com a peneira, peraí cara pálida, isso tudo tem a ver contigo! 

Quer outro exemplo, Pizzaria Pharma na rua Lauro Linhares, conhecido pela qualidade do rodízio e tradicional point no bairro da Trindade. Lá estava eu tentando subir (cai-não-cai) os 5 degraus da entrada quando o garçom vira pra mim e diz: "nossa cuidado pra não cair!" E eu em alto e bom som: "Cair?!? Cadê a rampaaaa, p@#5$#&¨*&¨##$%!?!?!" 
E agora me pergunto: "Quantas vezes fui a essa mesma pizzaria e nunca havia sentido a ausência de uma rampa?!?!?"
E você sente falta dela??!


E exemplos não faltam...
Temos aos montes por aí!



Não acredito que seja necessário que todos andemos de cadeiras de rodas ou de muletas por aí para saber que algo precisa ser feito... Talvez o que necessitamos urgentemente é olhar um pouco para além do nosso umbigo e da nossa individualidade e conduzir olhares para o lado, para cima e para baixo a fim de perceber que somos mais parecidos do que imaginamos. 
Respeito à diversidade se faz com ação efetiva, com políticas públicas de inclusão que permitam que todos, mesmo sendo diferentes, possam desenvolver suas capacidades em "pés" de igualdade.

Pelo visto temos muito trabalho pela frente, então que tal começarmos já?!?

A partir de hoje me esforçarei para não frequentar qualquer estabelecimento que não tenha acesso para pessoas com necessidades especiais (sejam essas necessidades quais forem!)
BOICOTE JÁ! TOPAXX??!?

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