Já faz alguns dias que não publico
notícias da vida deste lado da internação, hoje completando 23 dias.
Desde o último post algumas coisas mudaram:
agora tenho uma vaga num leito e uma cama ao invés de uma maca, assim divido o
quarto com mais três outros antigos companheiros de corredor ao invés de com
todos os pacientes que entravam na emergência do hospital. Resultado das imagens vinculadas na tv?!? Quem sabe...
Pena que as mudanças
acabam por aí.
Posso dizer que depois de acionar todos
os órgãos responsáveis pela fiscalização da saúde aqui no estado de
Santa Catarina (Secretarias de Saúde, Ouvidorias do estado, Ministério Público,
Defensoria Pública, entre outros) não obtive nenhuma resposta mais enfática
sobre a situação que eu e boa parte dos pacientes enfrentamos aqui no Hospital
Celso Ramos.
O MP aliás foi o único órgão que, até o momento,
me contatou em resposta. Por telefone a procuradora responsável pelo caso disse
que junto com o meu haviam dezenas de outros pedidos de intervenção e que em
tempo hábil todos seriam encaminhados para a Secretaria de Saúde para
providências.
E o “tempo hábil” qual é?
Nesses momentos é como se a areia da ampulheta
não fosse a mesma para medir o passar das horas e aí temos o tempo do
judiciário, o tempo dos políticos, o tempo da efetivação das políticas públicas,
o tempo das instituições, o tempo de espera pelos serviços públicos básicos, o
tempo do... o tempo... tempo.
E claro, essa infinidade de tempos ainda estão
condicionados à variação imposta pela condição social do sujeito e as formas
que ele dispõe para acessar os mesmos serviços. É tanto assim que aqui nos
corredores muitos dos pacientes interpretam toda a situação como algo normal,
em que a única solução que se tem é agradecer o atendimento e esperar que ele
ocorra no tempo que virá, e que este pode ser o tempo de “quando-deus-quiser”
ou “quando-o-doutor-achar-que-tem-que-ser”, enfim um tempo qualquer.
Não interprete meu relato como sendo de
todo pessimista, isso não é verdade! Até porque nesses mesmos corredores vi
situações de superação, de luta por melhores condições de trabalho, por defesa
dos direitos universais preconizados pelo SUS e muita indignação diante da
espera e do não!
E essa insatisfação está em toda parte seja
partindo dos usuários da política como por parte dos técnicos. Muitas vezes o
que precisa ser explicitado são os caminhos para canalizar tais forças
dispersas, e aqui poderíamos estender nossas reflexões para como construir
esses canais e aglutinar essas reclamações potencializando-as em ações efetivas
para a alteração daquilo que está posto, mas vou ficando por aqui...
Antes gostaria apenas de comentar a foto
que acompanha esta publicação. Ela foi tirada na única sala de gesso que existe aqui no
Hospital Celso Ramos. Em outras palavras, essa é a sala de gesso do hospital
referência do estado, um local insalubre, com pouca ventilação e que ainda deve atender todos os casos do hospital...
Vamos falar em qualidade de serviço e humanização no atendimento?!
Pois é, explicar o porquê a gente até consegue,
agora aceitar a situação é que são elas...
A história, afinal de contas, somos nós
mesmos
e o que nossas parcas virtudes
puderem fazer de nossos destinos incertos.
Nossa responsabilidade é intransferível.
Melhor elaborarmos bem nossas
convicções.
Luis Eduardo Soares
Nenhum comentário:
Postar um comentário