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Pra um dia místico como o de hoje (10/10/10), vou postar um conto do argentino Rodolfo Walsh.
O texto foi publicado originalmente na revista argentina Leoplán em 1964 e segundo o autor estes textos teriam "uma remota dívida com Borges, mas principalmente com Macedonio Fernández, o pai de todos os humoristas argentinos"...
Pra um dia místico como o de hoje (10/10/10), vou postar um conto do argentino Rodolfo Walsh.
O texto foi publicado originalmente na revista argentina Leoplán em 1964 e segundo o autor estes textos teriam "uma remota dívida com Borges, mas principalmente com Macedonio Fernández, o pai de todos os humoristas argentinos"...
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A Notícia
Era uma mulher loura, de uns 40 anos, provavelmente alemã. Chamava-se Gertrudis, e dizia o seguinte:
- Os dragões me devoraram sete vezes, mas sempre tiveram que me vomitar.
- Ah! - disse o jornalista gentilmente, guardando seu bloco de notas. - E por quê, senhora?
O residente que acompanhaca o jornalista sorriu ao ouvir a palavra "senhora".
- Porque sou uma deusa - disse a senhora Gertrudis.
- Uma deusa - disse o jornalista.
- Isso mesmo. Olhe - confiou a senhora Gertrudis mostrando o espaço em volta, com um movimento muito delicado do braço. - Por mim caem todas as folhas do outono. Vejam como elas caem.
O jornalista viu.
O pátio do manicômio estava cheio de árvores, e das árvores caíam milhares de folhas secas. Atrás dos muros havia outras árvores e delas também caíam folhas, numa silenciosa, infindável, inundação. O jornalista viu que caíam por toda a parte ao mesmo tempo, talvez no mundo todo, e se perguntou como ia fazer pra dar uma notícia daquelas.
Disse:
- Por favor, senhora, baixe o braço.
A senhora Gertrudis, com pesar, baixou o braço. O ar se tornou de novo limpo e puro, e o jornalista ficou contente por não ter que dar uma notícia tão estranha.
(Tradução de Rubia Prates Goldoni e Sérgio Molina)
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Do dia: "Imaginação a flor da pele"
8]
A Notícia
Era uma mulher loura, de uns 40 anos, provavelmente alemã. Chamava-se Gertrudis, e dizia o seguinte:
- Os dragões me devoraram sete vezes, mas sempre tiveram que me vomitar.
- Ah! - disse o jornalista gentilmente, guardando seu bloco de notas. - E por quê, senhora?
O residente que acompanhaca o jornalista sorriu ao ouvir a palavra "senhora".
- Porque sou uma deusa - disse a senhora Gertrudis.
- Uma deusa - disse o jornalista.
- Isso mesmo. Olhe - confiou a senhora Gertrudis mostrando o espaço em volta, com um movimento muito delicado do braço. - Por mim caem todas as folhas do outono. Vejam como elas caem.
O jornalista viu.
O pátio do manicômio estava cheio de árvores, e das árvores caíam milhares de folhas secas. Atrás dos muros havia outras árvores e delas também caíam folhas, numa silenciosa, infindável, inundação. O jornalista viu que caíam por toda a parte ao mesmo tempo, talvez no mundo todo, e se perguntou como ia fazer pra dar uma notícia daquelas.
Disse:
- Por favor, senhora, baixe o braço.
A senhora Gertrudis, com pesar, baixou o braço. O ar se tornou de novo limpo e puro, e o jornalista ficou contente por não ter que dar uma notícia tão estranha.
(Tradução de Rubia Prates Goldoni e Sérgio Molina)
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Do dia: "Imaginação a flor da pele"
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